Com
o passar do tempo, as economias se tornaram mais diversificadas e complexas,
com novas modalidades contratuais e o fim do trabalho escravo, prática
infamante. Por um lado, sistemas políticos absolutistas mudaram para formas
mais democráticas, com eleições; por outro lado, o poder de parte dos
agentes, como organizações do estado e grandes corporações, aumentou, criando a
necessidade de maior equilíbrio. Adicionalmente, a tecnologia disponibilizou
instrumentos de comunicação que permitem disseminar informações e acusar
comportamentos em tempo real e em âmbito global, favorecendo mais transações
internacionais e, concomitantemente, agregando seus riscos.
É
nesse contexto que a ética normativa se torna mais reclamada: afinal, é preciso
entender as mudanças econômicas, sociais e culturais e mitigar riscos, por meio
de princípios éticos. Mas se a ética normativa não é a única forma de
entender o tema ética, o que mais se deve considerar? A resposta é:
a ética de resultados, cujos fundamentos emergem do livro O Príncipe,
de Nicolau Maquiavel (1469-1527), escrito em 1513 e publicado postumamente
em 1532. Considerado por muitos pai da ciência política, Maquiavel
não foi maquiavélico, no sentido negativo muitas vezes – e erroneamente -
a ele imputado.
O
autor viveu em uma Europa com monarquias absolutistas e seu trabalho deve ser
contextualizado. De acordo com O Príncipe (capítulos XV a XXV), bons
príncipes: são proativos e bons planejadores, criando o futuro; preparam e
preservam suas barreiras defensivas (principal: o povo) e seus exércitos;
escolhem com cuidado aliados e posicionam-se claramente a seu favor; transitam
bem entre os poderosos e os humildes; são prudentes com as finanças, evitando
ostentação; cercam-se de bons assessores, tomando cuidado com bajuladores; são
flexíveis e sabem se adequar ao meio ambiente. Tudo isso e muito mais.
Ao
mesmo tempo, segundo Maquiavel, bons príncipes priorizam a manutenção do Estado
e a sustentação do poder. Serão implacáveis, se necessário, para o alcance de
objetivos, mas sem deixar de cuidar da imagem. E serão maus, se houver necessidade, aplicando punições exemplares àqueles que os desafiarem e, na
sequência, procurando entender as causas que produziram o problema e
eliminá-las, mantendo o povo a seu lado e preservando sua imagem.
Contextualizando
a ética de resultados aos tempos modernos, constata-se que a ética normativa ou
de princípios e a ética de resultados criam o dilema entre fazer o que é
certo versus fazer o que é preciso ser feito, para evitar mal maior. Estas
são escolhas que se apresentam, a cada momento, a organizações, grupos de
interesses e indivíduos. No caso das organizações, seus públicos relevantes
ou stakeholders demandam respeito; assim sendo, a ética de
princípios se torna meta a ser perseguida.