sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Caso Instituto Terra: qual é a contribuição da família Salgado ao Brasil?


Aimorés é uma cidade mineira próxima do estado do Espírito Santo, localizada entre o rio Doce e a estrada de ferro Vitória-Minas. O município, também banhado pelos rios Manhuaçu e Capim, foi, em seus primórdios, território de índios aimorés. A terra foi sendo ocupada por públicos externos e, no bojo do desenvolvimento de atividades econômicas, também passou, com o tempo, a lidar com o empobrecimento e a perda de população, em consequência da exploração comercial da madeira, do desmatamento e de atividades agrícolas e pecuárias sem maiores compromissos quanto à sustentabilidade. O resultado é que a natureza local passou a ser caracterizada por paisagens substancialmente degradadas. 

Nesse contexto, emergiu o Instituto Terra, associação civil e sem fins lucrativos, fundada em 1998 pelo casal Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Ribeiro Salgado Júnior. Localiza-se na Fazenda Bulcão, em Aimorés, tendo sido econhecida como Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) pela Portaria IEF/MG Nº 081, promulgada em 07 de outubro de 1998.

O Instituto Terra definiu como seus principais objetivos estratégicos a restauração do ecossistema local, a produção de sementes, a produção de programas ambientais, a educação ambiental e a pesquisa científica aplicada. A recuperação da maior parte dos 1.754 acres da Fazenda Bulcão pelo Instituto Terra deve ser considerada um feito inédito no Brasil e governo de Minas Gerais a criar a categoria de Reserva Privada para Restauração Ambiental (PRER), em 2004, a fim de encorajar outros proprietários rurais a empreender iniciativas congêneres.

Além da recuperação de estimados 7.500 hectares de áreas degradadas da Mata Atlântica, o Instituto Terra produziu mais de 4,5 milhões de sementes da mata nativa e desenvolveu cerca de 750 projetos educacionais, alcançando estimadas 75 mil pessoas, de acordo com o seu Relatório Anual de 2013. Todo esse trabalho tem permitido injetar dinheiro na economia do município de Aimorés, por meio de empregos diretos de pessoas da região e do incremento de negócios locais. O Instituto também tem outras frentes de atuação: ele produziu livros e o portal Semear, na internet, especializado em sementes e mudas.

De acordo com o  Relatório Anual de 2013 (até a elaboração deste artigo, o Relatório de 2014 não havia sido disponibilizado no site do Instituto), a Entidade tem uma estrutura de governança constituída por um conselho diretor, um conselho consultivo, um comitê de auditoria e uma superintendência executiva, que reporta ao conselho diretor. Segundo o mesmo Relatório, o Instituto trabalha com ferramentas de gestão como o Balanced Scorecard (BSC), o orçamento base zero associado ao rolling forecast, a gestão de riscos e a gestão de projetos, submetidos a um processo de análise, aprovação e avaliação de aprendizado.

Sob o prisma financeiro, no Balanço publicado no Relatório em questão, o Instituto registra ativos de R$ 5,69 milhões em 2013, receitas de R$ 3,25 milhões e um prejuízo de R$ 128 mil, correspondente a 3,9% de suas receitas. Para alcançar seus objetivos, o Instituto Terra depende em grande medida das contribuições de parceiros. Dos projetos da organização, 41% têm financiamento governamental, 22% financiamento privado e os demais relacionam-se a outras fontes de recursos.

Com respeito ao casal fundador do Instituto Terra, Sebastião Salgado é mineiro, economista e, posteriormente, abraçou a fotografia como profissão, tendo reconhecimento internacional e recebido os principais prêmios de fotografia do mundo. Sua esposa, Lélia Salgado, capixaba, é pianista, fotógrafa e arquiteta, bem como presidente do conselho de administração do Instituto. O casal tem dois filhos, um dos quais, Juliano Ribeiro Salgado, dirigiu o documentário “O sal da terrra”, sobre seu pai, com o diretor Wim Wenders, indicado ao Oscar 2015.