sexta-feira, 28 de abril de 2017

Como os conselhos de administração devem atuar?


Muito esforço tem sido empenhado em discutir o papel dos conselhos de administração, objeto de muitos estudos e pesquisas. E eles merecem todo esse esforço, dada sua importância para a governança corporativa das empresas, e dadas as regras legais impostas aos conselhos e seus integrantes. No Brasil, conselhos de administração têm grandes responsabilidades, de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404, 15/12/76) e suas atualizações. Assim como os conselhos fiscais e as diretorias executivas, eles podem ser legalmente penalizados por decisões que prejudiquem as empresas e seus sócios. 

Entretanto, a análise da atuação dos conselhos deve ir muito além das disposições legais, para entrar no mérito da eficácia e do envolvimento dos conselhos em assuntos importantes para as empresas. John Pound, no artigo The promise of the governed corporation (Harvard Business Review, 1995), defende que o papel do conselho é fomentar decisões eficazes e revogar políticas inadequadas. Em sua visão, conselhos devem ter expertise em áreas diversas (como o setor em que a empresa opera e finanças), ser bem remunerados, ter dedicação satisfatória e agregar valor ao processo decisório.

David A. Nadler, por sua vez, no artigo A construção de um conselho eficaz (HBR, edição especial, 2004), afirma que o segredo de uma boa governança corporativa reside nas relações de trabalho entre os conselhos de administração e as diretorias executivas, na dinâmica social da interação dos próprios conselhos e na competência, integridade e envolvimento construtivo de cada conselheiro. Nadler identifica cinco modelos de conselho, conforme o nível de envolvimento com os assuntos da empresa: 

1) Conselho passivo, o qual funciona segundo o arbítrio do presidente executivo.

2) Conselho certificador, o qual meramente atesta aos sócios que o presidente executivo vem fazendo o que dele se espera. 

3) Conselho envolvido, que fornece idéias, opiniões e apoio à diretoria executiva. 

4) Conselho interventor, o qual se envolve intensamente na tomada de decisões em torno de assuntos vitais. 

5) Conselho operativo, que toma decisões importantes que os executivos implementam, compensando a eventual falta de experiência da equipe executiva.

Ram Charam por seu turno, no livro Boards that deliver (2002), aponta a existência de grandes dificuldades no relacionamento entre os conselhos de administração e as diretorias executivas de empresas estadunidenses, identificando três categorias de conselhos:

1) Conselho ritualista, caracerizado pelo domínio de presidentes executivos poderosos, por reuniões sem diálogos produtivos, fluxos de informações controlados com rigor e uma postura passiva dos conselheiros, observadores e aprovadores formais de decisões já tomadas pelo presidente executivo.

2) Conselho liberado, pautado por maior liberdade de conselheiros para expor seus pontos de vista; porém, por dificuldades de diálogo, que é fragmentado, permeado por assuntos irrelevantes, operacionais. Raramente se chega a consensos, o que drena energia dos dirigentes; 

3) Conselho progressista, qualificado por boa integração entre conselheiros e executivos, diálogos produtivos e relevantes, para os quais se busca o consenso, por autoavaliação produtiva dos conselheiros, antecipação de executivos a necessidades do conselho e pelo aprendizado.

Conforme se percebe, é possível avaliar conselhos de administração segundo distintos enfoques, mas que, essencialmente, têm a ver com o mérito da eficácia e do envolvimento dos conselhos em assuntos importantes para as empresas, conforme dito inicialmente. Seja qual for o formato da avaliação, é fundamental entender que nas empresas onde existe um sócio controlador, este provavelmente dará o tom, isto é, determinará a forma como os conselhos operarão. A cada conselheiro, caberá decidir se o seu modo de pensar é consistente ou não com as diretrizes do controlador, se ele, conselheiro, não está referendando decisões que não deveria, se vale a pena atuar na empresa, enfim.

Mônica Mansur Brandão