O que é um paradigma?
Em
1962, Thomas Samuel Kuhn, doutor em física
pela Harvard University, publicou o livro A estrutura das revoluções científicas,
que teve grande repercussão junto à comunidade acadêmica – e ainda tem. Na obra,
Kuhn apresenta o conceito de paradigma: trata-se de uma teoria forte,
aceita por uma comunidade de praticantes de uma dada ciência, que sustentará o
desenvolvimento de teorias, modelos e leis que gravitarão ao redor dos seus
fundamentos, até que anomalias descobertas conduzam à formulação e consenso em
torno de uma nova teoria forte.
Como
exemplos de paradigmas, podem ser citados estudos como Física, de Aristóteles, Almagesto,
de Ptolomeu, Principia e Óptica, de
Newton, Eletricidade, de Franklin, Química, de Lavoisier e Geologia, de Lyell, os quais, segundo a
visão de Kuhn, se prestaram, durante certo tempo, à definição de problemas e
métodos de pesquisas para gerações posteriores de praticantes da ciência.
A leitura da obra de Kuhn permite
identificar no mínimo sete características de um paradigma, segundo sua
definição do termo: 1. universalidade (o paradigma repousa sobre realizações
científicas universalmente aceitas); 2. temporalidade (não é eterno); 3.
ineditismo (é inédito); 4. abertura (é aberto o suficiente para
permitir pesquisas nele baseadas); 5. compartilhamento (passa a existir quando
compartilhado por pessoas com regras comuns de prática científica); 6. validade
(intrinsecamente, é tão bom que as escolas antigas gradualmente deixam de
existir); 7. ancorabilidade (ancora ou serve como referência para o
desenvolvimento de teorias e modelos sem a necessidade de explicações sobre
conceitos básicos).
Segundo Kuhn, o desenvolvimento
científico se desenvolve por etapas. A primeira é a emergência de um paradigma
e sua aceitação por uma
comunidade de cientistas. Em seguida, vem o desenvolvimento de estudos e
pesquisas baseados no paradigma citado, considerado válido. Na sequência, identificam-se
pontos falhos no paradigma e contestações. Por fim, emerge um novo paradigma, configurando
uma revolução científica. E a partir desse ponto, o ciclo se repete.
O
livro de Kuhn gerou tanta polêmica, em função
de seus pressupostos, que o próprio autor, antes de falecer em 1996, produziu
novos trabalhos tentando melhor clarificar suas ideias. Conforme dito, ele era
físico por formação e seu livro foi desenvolvido com base nas disciplinas que
estudam os fenômenos físicos. Boa parte
da polêmica veio dos especialistas em ciências humanas, mas não toda a
polêmica.
Ainda
que mantendo um viés Thomas Kuhn: consideraremos paradigma neste artigo
como sendo um modelo a ser perseguido, em função de características
admiradas por um grupo de pessoas, que pode, inclusive, corresponder a uma
comunidade profissional. Posto isso, perguntamos: existem paradigmas de
governo das empresas? Dito de outra forma: existem modelos de governança a
serem perseguidos pelas empresas? Como os investidores do mercado de capitais
percebem essas questões?
As
discussões sobre governança corporativa se concentram entre dois modelos
conceituais: o modelo financeiro, segundo o
qual as empresas existem para atender, em primeiro lugar, aos sócios, e o
modelo dos públicos estratégicos ou stakeholders, o qual preconiza que
as empresas existem para gerar riqueza para um grupo de públicos que delas
dependem, como sócios, empregados, clientes, fornecedores e outros.
Entretanto,
quando aprofundamos a realidade de uma organização, percebemos que ela
tem especificidades operacionais que tornam, no mínimo, temerário adotar essa ou aquela corrente
ideológica. Por mais focados em resultados econômicos que estejam – e
necessitam estar – os dirigentes de uma sociedade por ações, dificilmente eles
poderão ignorar, ao menos por longo tempo, as demandas sociais e ambientais que
se intensificam sobre suas empresas.
Adicionalmente, os investidores
dos mercados de capitais prestam, sim, atenção a essas demandas. Assim sendo,
talvez a melhor resposta para a pergunta do título deste artigo seja: não
existem modelos paradigmáticos de governança corporativa, existindo,
porém, as melhores políticas e práticas de governança vislumbradas em um dado
momento, bem como as escolhas do mundo real, aquelas que os dirigentes
organizacionais definem como sendo aquelas possíveis.
Mônica Mansur Brandão