No livro The theory of the grouth of the firm (1959), a
professora Edith Penrose define a
firma (frequentemente, a Ciência
Econômica utiliza tal palavra, ao invés de empresa)
como sendo um conjunto de recursos produtivos, humanos e materiais. Tais recursos
vão além de meros inputs materiais
para produzir bens e serviços, pois abrangem os conhecimentos que a organização
acumulou e que podem ser mobilizados em prol de objetivos. Qual é a relação do
pensamento de Penrose com o tema estratégia?
Edith Penrose identificou o planejamento
como fator central do crescimento das firmas, argumentando que os
modelos mentais emergentes da experiência e do conhecimento determinam as bases
desse crescimento. Ela teve um precioso insight: a firma reúne e combina recursos produtivos e seus produtos
e serviços dependem do ambiente interno e dos conhecimento usados para sua
produção. A firma seria, portanto, uma coleção de conhecimentos
armazenados e passíveis de serem mobilizados em prol de objetivos. No conceito de firma de Edith Penrose,
a estratégia emerge da mobilização desses
conhecimentos e esta foi uma das contribuições acadêmicas mais importantes da
Economia para o pensamento estratégico.
Existem muitos estudos sobre estratégia, com múltiplas abordagens e recomendamos aos
interessados o livro Safári da estratégia, de Henry Mintzberg, Bruce
Ahlstrand e Joseph Lampel, o qual apresenta várias teorias sobre o pensamento
estratégico, identificadas a partir da compilação e análise de um considerável número
de trabalhos. Lendo tal obra, pode-se constatar que asssim como governança
corporativa, estratégia é um constructo, isto é, um conceito que necessita de
várias teorias para ser bem compreendido.
No sistema de governo de uma empresa, a quem cabe o nobre
papel de estabelecer uma estratégia a ser implementada? No Brasil, a resposta está na legislação. De acordo com a
Lei das Sociedades Anônimas (6.404, 15/12/76) e suas atualizações, fixar a
orientação geral dos negócios da companhia é a primeira competência do conselho
de administração (artigo 142, parágrafo I). O conselho de administração é
uma instância de representação dos sócios; a diretoria executiva pode e deve
ajudar na construção da estratégia, mas é o conselho de administração quem orienta
os negócios. Assim dispõe o texto legal.
Frequentemente, as discussões sobre governança
corporativa se concentram nos conflitos entre sócios (exemplo: sócios
controladores x sócios não controladores), entre estes e administradores
(exemplo: sócios x dirigentes de empresas) ou entre os próprios administradores
(exemplo: conselho de administração x diretoria executiva). Fundamentalmente,
estes são embates de poder muito importantes e que se não forem bem tratados poderão
comprometer a sustentabilidade da organização.
Ao mesmo tempo, governança corporativa é muito mais do
que equacionar questões de poder. No artigo Quais são as principais funções e instrumentos de governança
corporativa?, relacionamos cinco funções muito relevantes de governança
corporativa, entre as quais, a definição
e a monitoração da estratégia, já que todas as
organizações têm uma estratégia, um caminho a perseguir, mesmo quando ele não é
explicitado. A estratégia é um dos temas mais importantes da agenda do governo
de uma empresa.
A estratégia interessa aos investidores em ações? Investidores
tomam suas decisões de investimento com a lógica da estratégia e da visão de
longo prazo? A visão de longo prazo, no
caso de empresas, é aquela que se preocupa, fundamentalmente, com resultados
tangíveis e intangíveis que exigem prazos destinados à realização e à maturação
de investimentos empresariais planejados. Esses resultados são alcançados
quando se planeja e implementa com sucesso uma estratégia.
A visão de longo prazo interessará, sim, aos investidores
em ações de uma empresa, se estes também tiverem visão de longo prazo para
os seus investimentos no mercado de capitais. Para esses investidores,
podemos afirmar sem medo de errar: eles desejarão, sim, conhecer as grandes linhas da estratégia das
empresas nas quais investem. E tomarão decisões de investimento, também, com
visão de longo prazo.
Mônica Mansur Brandão