John S.
Hammond, Ralph L. Keeney e Howard Raiffa, no artigo The hidden traps in
decision making (Harvard Business Review, 1998), afirmam que tomar decisões
é o mais importante trabalho de um executivo, sendo também o mais difícil e
arriscado. Eles examinaram um conjunto de armadilhas psicológicas
relevantes na tomada de decisões e, neste breve artigo, comentamos cinco, associando-os
às decisões dos conselhos de administração e das diretorias executivas.
Armadilha da ancoragem (the anchoring trap)
Corresponde à tendência da mente humana de prestar maior
atenção às primeiras informações recebidas sobre uma determinada questão, as
quais funcionam como âncoras ao raciocínio posterior, ainda que sejam
infundadas. Conselheiros de administração são públicos propensos a serem mentalmente capturados, uma vez que o
seu trabalho é feito com base nos documentos a eles encaminhados pelas
diretorias executivas - relatórios, apresentações e outros itens – os quais podem
se tornar âncoras para o raciocínio, restringindo ou no mínimo delimitando o livre pensar. As diretorias
executivas, por sua vez, também podem sucumbir às âncoras que emergem das áreas a elas subordinadas. Visões de
especialistas independentes podem ajudar a mitigar o risco de ancoragem.
Armadilha do status quo (the status quo
trap)
Emerge do desejo humano de proteger o ego. Experimentos apontam
que as pessoas preferem evitar mudanças, quando instadas a escolher entre a
manutenção de um status e a mudança,
já que mudar exige ação e responsabilidade pela ação, expondo quem decide a
críticas. Quem está mais propenso, no ambiente de governança corporativa, a ser
colhido pela armadilha do status quo? Todas as pessoas envolvidas nas
grandes decisões empresariais, entre conselheiros e diretores. Quando as
decisões são colegiadas – caso dos conselhos de administração e das diretorias
executivas em várias de suas decisões – as responsabilidades são compartilhadas.
Isso pode produzir melhores decisões? Por um lado, mais cabeças pensantes
ajudam a melhor examinar uma questão; por outro lado, o risco da proteção de
egos pode persistir.
Armadilha do custo afundado (the
sunk-cost trap)
Consiste em tomar
decisões que justifiquem ou ratifiquem decisões passadas, mesmo quando elas não
são mais válidas. Muitas pessoas se recusam a fazer necessárias mudanças,
porque isso seria admitir que elas erraram. E no ambiente de negócios, as más
decisões podem se tornar conhecidas pelas demais pessoas, razão pelas qual pode-se
optar por não reconhecê-las. A armadilha do custo
afundado dificilmente será percebida se a
empresa não tiver processos explicitamente orientados para o acompanhamento e a
crítica genuína, ainda que respeitosa, do status das decisões. Quais decisões
do conselho de administração ou da diretoria executiva são, de fato,
acompanhadas em seus resultados? Vale lembrar que podem existir conselhos
fracos, dominados por diretorias e meros validadores de decisões tomadas em
níveis hierárquicos inferiores.
Armadilha da confirmação das evidências
(the confirming evidence trap)
Relaciona-se à busca de
informações que confirmem um instinto,
um ponto de vista interno, evitando-se a busca das informações conflitantes com
aquilo que já se tem em mente. Esta armadilha afeta não apenas onde se buscam
as informações, mas também a forma como as mesmas são interpretadas para
favorecer o ponto de vista privilegiado. Hammond, Keeney e Raiffa sugerem designar
alguém para questionar ideias apresentadas em suas fragilidades – um advogado do diabo. No conselho de
administração, quem poderia representar esse papel? Um ou dois conselheiros,
designados exclusivamente para o propósito de buscar exaustivamente defeitos
nas alternativas avaliadas. Podendo haver rodízio de pessoas neste papel.
Armadilha da formulação ou formatação (the framing trap)
Tem a ver com a influência da forma como uma questão é
apresentada sobre as decisões das pessoas. A formatação de um assunto é uma das
etapas mais perigosas da tomada de decisões. Esta armadilha está
relacionada com aquelas anteriormente descritas: a forma de apresentação de uma
questão pode introduzir âncoras, priorizar custos afundados (sunk costs)
ou informações que confirmem um ponto de vista que alguém pretende impor. Provavelmente, a armadilha da formatação é uma das
mais frequentes na apresentação de informações aos conselhos de administração e
às diretorias, especialmente quando alguém está interessado em vender
uma idéia ou projeto aos dirigentes.
Como lidar com essas e outras armadilhas presentes nas decisões? O primeiro
passo é saber que elas existem. Na sequência, deve-se melhorar os processos
decisórios, de maneira a mitigar os riscos que podem impactar desfavoravelmente
as decisões. Mecanismos como ouvir opiniões independentes de consultores
externos, promover uma cultura flexível a mudanças, acompanhar os resultados de
decisões tomadas e adotar a prática do advogado
do diabo são apenas algumas das múltiplas alternativas a serem consideradas.
Mônica Mansur Brandão
(atualizado em 25/2/2022)