Índios guaranis de São Paulo
compraram ações da maior empresa de operação ferroviária do Brasil, a Rumo
Logística, com o propósito de apresentar denúncias sobre a administração da companhia
ao conjunto dos seus sócios. A Rumo tem a concessão da Malha Ferroviária
Paulista e duplicou o trecho Itirapina-Cubatão, destinado ao transporte de
cargas entre litoral e interior.
A duplicação do trecho citado requer
que a Companhia cumpra vários condicionantes ambientais e indígenas, como a construção
de casas e de uma ponte, a criação de locais para cultos religiosos, de hortas
comunitárias e a compra de microtratores. A obra impacta estimados 5 mil índios
guaranis que habitam nos municípios de São Paulo, Mongaguá, Itanhaém e Praia
Grande (SP), em área de Mata Atlântica ainda preservada no Estado.
Durante a assembleia geral ordinária
(AGO) da Companhia, ocorrida nesta quarta-feira, 24 de abril, os indígenas
leram uma carta denunciando a falta de cumprimento de medidas ambientais e de
proteção aos seus direitos. Segundo eles, das 101 atividades previstas para
mitigar os problemas ambientais e com indígenas, 72 encontram-se completamente
paralisadas no momento. Além disso, eles reclamaram do barulho de trens que
atravessam suas aldeias, do perigo de atropelamento por trens e da fuga de
animais. Ainda segundo os indígenas, a Rumo não tem se mostrado disposta a
dialogar, tendo frustrado cinco reuniões de mediação promovidas pelo Ministério
Público.
A Rumo, por seu turno, informou,
em nota a veículos de imprensa, como a Folha de São Paulo e o Valor Econômico, que tem feito a sua parte normalmente, e que em julho de 2018, teria
sido informada, de maneira unilateral, que o Comitê Interaldeias pretendia
receber as verbas direcionadas às ações e assumir sua execução. Na mesma nota,
a Rumo alegou não ter garantias de que o Comitê Interaldeias implementará as
ações com a qualidade requerida, esperando que a Funai e o Ibama ajudem a
assegurar a devida implementação.
A aquisição de ações de empresas
para buscar produzir mudanças na administração, conhecida como ativismo societário, é pouco utilizada
no Brasil. No caso de indígenas, esta é a primeira vez que algo assim ocorre.
Eles adquiriram seis ações da Rumo, ao preço estimado de R$ 17,00 cada ação e
esperam, com sua iniciativa, que a administração da Companhia atenda ao seus
pleitos.
Fontes: