sábado, 25 de maio de 2019

Brumadinho: CPI do Senado anda lentamente e altera foco inicial


A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, presidida pela senadora Rose de Freitas (Pode-ES), foi criada para entender as causas do rompimento da barragem na mina de Córrego do Feijão, da Vale S/A, em Brumadinho (MG) e, na esteira desse propósito, compreender aspectos de segurança das barragens de mineração. 

A CPI foi criada em 12 de fevereiro e instalada em 13 de março. O rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro, até o momento registra 231 mortos e 41 desaparecidos – estimadas 272 vítimas, de acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais.

O jornal Folha de São Paulo, em matéria intitulada CPI de Brumadinho patina sem obter provas contra cúpula da Vale, assinada pelo jornalista Rubens Valente, critica o andamento dos trabalhos da CPI do Senado, já que a Comissão caminha lentamente, esgotou cerca de 60% do tempo previsto, não conseguiu ainda revelações de caráter “bombástico” sobre o ocorrido ou apresentou alguma análise das informações recebidas até o momento. A CPI do Senado tem até o dia 2 de julho para disponibilizar seu relatório final sobre o ocorrido em Brumadinho.

Grandes dificuldades de trabalho são reconhecidas pela presidente e por integrantes da Comissão. A senadora Rose de Freitas pediu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que substitua membros da CPI do Senado que não têm comparecido às reuniões; segundo a mesma, a luta para que os senadores estejam presentes é grande. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO), um dos integrantes mais assíduos da CPI, também aponta a baixa participação, que tem reduzido o quórum por vezes a quatro senadores, em uma Comissão de 10 titulares e sete suplentes.

Segundo a matéria da Folha de São Paulo, não há, no momento, outra CPI em curso e, portanto, o excesso de CPI’s não pode ser alegado como causa da baixa participação de senadores na CPI de Brumadinho. Adicionalmente, não se pode alegar que a CPI não poderia ser mais produtiva, pois a CPI do Cachoeira, de 2012, que investigou os negócios do empresário Carlos Cachoeira, analisou 12 mil quebras de sigilo bancário, segundo a reportagem.

Relator da CPI de senadores e também assíduo – participou de todas as reuniões de trabalho –, o senador Carlos Viana (PSD-MG) disse à reportagem da Folha de São Paulo que as investigações da Polícia Federal e outros órgãos competentes terão dificuldades para apontar a culpa de dirigentes da Vale S/A, já que faltam evidências. Até o momento, ficou provado que vários tinha conhecimento sobre a situação da mina, mas isso não seria suficiente para incriminá-los. Outra dificuldade é tipificar a atribuição de eventuais crimes aos empregados de escalões inferiores da Companhia.

Sobre as dificuldades de apontar a culpa de eventuais responsáveis, a senadora Rose de Freitas chegou a afirmar no plenário do Senado Federal que os depoimentos prestados são “uma troca de responsabilidades sucedâneas”. Segundo a senadora, pelos depoimentos, ninguém tem culpa e ela, inclusive, ironizou em plenário a qualidade dos depoimentos prestados, dizendo que “deve ter sido um furacão que provocou aquilo em Brumadinho”. 

Os três senadores, Rose de Freitas, Carlos Viana e Jorge Kajuru observaram ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu habeas corpus a quase todos os depoentes, assegurando aos mesmos o direito de permanecerem calados. Alguns, mesmo assim, prestaram seu depoimento à CPI; contudo, outros permaneceram em silêncio diante dos senadores. Foi o caso dos empregados da Tuv Sud, consultoria de origem alemã que certificou como segura a barragem do Córrego da Minas de Feijão. No dia 29 de janeiro, Makoto Mamba, engenheiro da Tuv Suv, afirmou a autoridades que havia sido pressionado pela Vale a certificar a barragem como segura. Diante dos membros da CPI do Senado, ele se manteve em silêncio.

A reportagem da Folha de São Paulo aponta, ainda, que no início dos trabalhos da CPI, seu relator, o senador Carlos Viana (PSD-MG) apresentou como primeiro objetivo dos esforços da Comissão investigar as causas do ocorrido em Brumadinho, ouvindo pessoas envolvidas, analisando documentos e encaminhando suas conclusões ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público Estadual de Minas Gerais e a outros órgãos competentes. Mas à reportagem da Folha, o senador informou que a CPI se concentra em propor “mudanças mais abrangentes sobre fiscalização e controle das barragens”, que implicará mudar leis e a fiscalização, já que foram identificadas várias falhas que levaram ao desastre. O lado criminal da CPI, portanto, ora parece receber menos destaque.

As evidências apontadas pela matéria da Folha de São Paulo indicam que o relatório da CPI do Senado tende a focalizar mudanças no ambiente institucional, sem contemplar responsabilidades, assunto que ficará a cargo da Polícia Federal, dos Ministérios Públicos Federal e Estadual de Minas Gerais e de outros órgãos competentes. Destaca-se ainda a criação recente, no final de abril, de uma CPI paralela na Câmara dos Deputados. E destaca-se a existência de uma CPI na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Almg), criada em março. Se estas duas CPI’s tiverem as mesmas dificuldades da CPI do Senado, a tendência é que as suas conclusões sejam apenas de cunho institucional, sem analisar as responsabilidades.

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