A participação de mulheres na cúpula de organizações, especialmente
de grandes organizações, está muito longe de um estado de equilíbrio com a
participação masculina. Esta afirmativa se aplica tanto às grandes empresas do
Planeta quanto do Brasil, bem como aos conselhos de administração, presidências
e diretorias executivas. Neste artigo, focalizamos os conselhos de
administração.
Uma pesquisa da consultoria Spencer Stuart sobre a participação
de mulheres nos conselhos de administração de empresas listadas no Novo Mercado
e nos Níveis 1 e 2 de governança corporativa da bolsa de valores B3 indicou o
percentual de 9,4% de conselheiras, incluindo suplentes. Se estas forem
retiradas do cálculo, a participação se reduz para 6,6% (B3 e IBGC querem acelerar participação feminina nos conselhos, Valor Econômico, 8/3/2019).
Ainda de acordo com a pesquisa supracitada, 54% das
empresas pesquisadas não têm qualquer conselheira. A julgar pela velocidade de
crescimento do número de conselheiras nas empresas, o equilíbrio com os homens
nos conselhos demandará décadas. Façamos um exercício breve de extrapolação. Imaginemos a participação feminina crescendo à taxa de 1% a cada novo ano nos
conselhos administrativos das empresas citadas, valor condizente com a realidade, conforme pesquisa acima. Nessa perspectiva, as participações de 50%-50% (equilíbrio entre homens e mulheres)
levarão estimados 43 anos.
Os números anteriores sinalizam uma espera de mais de quatro
décadas. Mas e se nada for feito para mudar o quadro atual, acelerando o
crescimento das mulheres nos conselhos? E se o crescimento for, por exemplo, da
ordem de 0,5% ao ano? Nesse caso, as mulheres terão que esperar cerca 86 anos
para que seja alcançado o equilíbrio. Ou até mais: a realidade dos fatos pode,
eventualmente, conduzir a um tempo de espera centenário. É razoável esperar
tanto? Não concordamos com essa possibilidade.
Organizações como a bolsa de valores B3 e o Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) demonstram ter ciência do quadro
apresentado e têm empreendido esforços muito importantes para mudar o status de forte desequilíbrio. A B3 tem se manifestado no sentido de ampliar a conscientização
de públicos corporativos quanto à maior integração de mulheres nessas
instâncias. O IBGC ministra um curso com foco na mentoria de mulheres
profissionais que possam ser conselheiras de organizações. Apoiado pela B3, o
curso conta ainda com o suporte da International Finance Corporation (IFC), da
Women Corporate Directors (WCD) e da consultoria Spencer Stuart.
O Projeto de Lei (PL), iniciado no Senado e que ora se encontra no
âmbito da Câmara dos Deputados – o PL 7179/2017 (número recebido na Câmara) –,
de autoria da senadora Maria do Carmo Alves (DEM/SE), dispõe sobre “a
participação de mulheres nos conselhos de administração de empresas públicas e
sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas e demais empresas
em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social
com direito a voto” (texto conforme site
da Câmara). O PL em questão institui cotas para a participação de mulheres nas
organizações citadas (30%) e não se aplicará, se transformado em lei, às
empresas privadas.
Os esforços da B3 e do Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC) ajudarão a reduzir o desequilíbrio entre as presenças de profissionais masculinos e femininos nos conselhos de administração de
empresas com ações listadas na Bolsa de Valores e em outras organizações
empresariais que observam seus padrões de governança, ainda que parcialmente.
Ao mesmo tempo, mesmo com o significativo valor de mercado das empresas
listadas na B3, a grande maioria das empresas do Brasil está fora desse contexto.
E existe a questão das cotas na pauta das empresas estatais e mistas. Será um
sistema dessa natureza, se aplicável também a empresas privadas, solução para
ampliar a participação feminina nos conselhos?
Continua nos artigos
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 2/3
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 3/3
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Mônica Mansur Brandão