Mesmo não abrangendo o mundo privado, a discussão sobre um
eventual sistema de cotas não parece algo retórico ou imaterial, já que na
esfera legal existem esforços para que tal sistema se torne realidade nas
empresas estatais e de economia mista da esfera federal no Brasil. Assim, vale a pena refletir sobre a questão
das cotas. O quadro a seguir sintetiza argumentos a favor e contra
(contrapontos) a esse sistema:
Conforme se percebe examinando o quadro acima, dele emergem três restritores principais ao sistema de
cotas (contrapontos indicados na coluna à direita): a cultura vigente, ainda pautada por forte presença masculina nos conselhos, a qualificação insuficiente
de conselheiras e a indisponibilidade de conselheiras qualificadas (associada à anterior).
No que concerne à qualificação de conselheiras, não será correto atribuir a responsabilidade por más
contratações para suprir cotas obrigatórias em conselhos às próprias
contratadas. Afinal, sócios de empresas realmente cientes do grande valor de um
conselho de administração buscarão conselheiras qualificadas; esta é a
providência correta a ser tomada. Eles encontrarão conselheiras qualificadas, ou então as prepararão. Se não o fizerem, provavelmente já não o
fariam se não existisse o sistema de cotas. A responsabilidade de recrutar, contratar
e avaliar conselheiros é dos sócios ou, no caso de empresas estatais e mistas,
de seus prepostos, os representantes eleitos pelo povo para o Poder Executivo.
Ao mesmo tempo, como a conscientização sobre a
importância dos conselhos de administração ainda é consideravelmente assimétrica no Brasil e no mundo, o sistema de cotas, per se, não assegurará agregação de
eficácia sem conselheiras qualificadas para a função, isto é, se cargos forem
preenchidos com mulheres que não possam contribuir para o futuro da empresa e
que foram escolhidas sem critérios de qualificação.
Adicionalmente, sobre a assimetria
supracitada, a nosso ver, corre-se o risco de o aspecto cultural reforçar a
resistência em relação à presença feminina nos conselhos, criando a necessidade
de mais esforço do que seria necessário para vencer tal resistência. Note-se
que estamos tratando, neste artigo, da necessidade de a diversidade agregar
eficácia aos conselhos: homens e mulheres devem contribuir para que o conselho
de administração seja uma esfera de alta
performance.
Continua nos artigos
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 1/3
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 3/3
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 1/3
Participação de mulheres nos conselhos de administração: como acelerar? 3/3
Mônica Mansur Brandão