A resposta à pergunta do título
deste artigo é: não necessariamente. É o que demonstra a realidade do momento do
Brasil, refletida em bom artigo da Folha de São Paulo, publicado neste dia 11 (domingo) e
denominado Primeiro semestre sob
Bolsonaro, 44 indicadores pioram e 28 melhoram – levantamento aponta
deterioração na educação e no ambiente e equilíbrio na economia.
No artigo em questão, a FSP explica
ter pesquisado 87 indicadores ao longo do primeiro semestre de 2019, em bases
comparativas com o primeiro semestre de 2018. A análise da Folha categorizou os
vários indicadores considerando as alternativas “melhorou”, “piorou” e estável”.
Abaixo, relacionamos os indicadores deteriorados, que são aqueles que mais
importam para responder à pergunta inicial deste artigo, mesmo reconhecendo que
houve alguma melhora em 28 indicadores e a estabilidade de outros 15:
Economia e equilíbrio fiscal
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1.
PIB*2. Expectativa para PIB 2019*
3. PIB-Investimentos*
4. PIB/Indústria*
5. PIB - Agropecuária*
6. PIB-Exportação de bens e serviços*
7. Balança comercial
8. Exportação
9. Corrente de comércio
10. Taxa média de juros
11. Dívida Pública
12. Estados em dificuldade de honrar dívidas
Finanças familiares
------------------------------------------------------
13.
Endividamento das
famílias14. Preço médio da cesta básica
15. Número de consumidores inadimplentes
Trabalho
------------------------------------------------------
16.
Pessoas sem
carteira de trabalho assinada17. Subutilização da força de trabalho
Saúde
------------------------------------------------------
18.
Médicos na
atenção básica19. Repasses federais para atenção básica
20. Agentes comunitários de saúde
21. Consultas de pré-natal
22. Consultas na atenção básica
23. Cobertura vacinal
24. Número de internações por pneumonia em menores de cinco anos
Educação
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25.
Investimento
federal para construção de creches26. Número de escolas apoiadas para melhoria de ensino no 1º e 2º anos
27. Investimentos federais na melhoria de ensino no 1º e 2º anos
28. Bolsas para alfabetização de adultos
29. Investimento federal em ensino integral
30. Repasses para obras de acessibilidade e instalação água nas escolas
31. Repasses para instalação de internet nas escolas
32. Número de alunos no Pronatec (educação profissional)
33. Bolsas integrais e presenciais do Prouni
34. Bolsas para pós-graduação
35. Avaliação popular da educação
Habitação
------------------------------------------------------
36.
Repasses ao Minha
Casa Minha VidaEnergia
------------------------------------------------------
37.
Preço médio do
dieselMeio ambiente e terras
------------------------------------------------------
38.
Desmatamento na
Amazônia Legal39. Desmatamento no Cerrado
40. Multas aplicadas pelo Ibama
41. Demarcação de terras
Aprovação e confiança
------------------------------------------------------
42.
Avaliação do
governo 43. Confiança do consumidor
44. Índice de confiança do empresariado
Importante: reordenamos a apresentação dos blocos de indicadores apresentados na FSP, para melhor facilitar a leitura do artigo. Ademais, não apresentamos os números detalhados pela matéria.Os indicadores indicados com asterisco (*) foram computados para o primeiro trimestre, já que os dados semestrais ainda não estão disponíveis.
Conforme se percebe, de modo
geral, houve deterioração em indicadores importantes relacionados à economia,
equilíbrio fiscal, finanças familiares, trabalho, saúde, educação e meio
ambiente. E ainda que todos os indicadores importantes para o Brasil não
estejam contemplados na relação elaborada pela matéria da Folha de São Paulo, o
painel ali apresentado denota que nos primeiros meses do ano, o Brasil piorou
em várias frentes.
Ainda de acordo com a matéria em
consideração (ver final da lista de indicadores anterior), os níveis de confiança
dos consumidores e do empresariado caíram e o governo tem 33% de aprovação de bom
e ótimo, a pior avaliação popular dos presidentes de primeiro mandato nos seis
primeiros meses de governo, segundo informa o Datafolha.
Concomitantemente, o mercado de
ações, medido pelo índice Ibovespa, se valorizou, saltando de 91 mil pontos no pregão
do dia 2 de janeiro para 100,9 mil pontos no do dia 28 de junho (usando
dados da própria matéria da FSP). E já considerando o desastre ambiental de Brumadinho
– o rompimento da barragem de Córrego do Feijão –, que desvalorizou
substancialmente a Vale S/A no mercado.
Assim sendo, a valorização do
mercado nesse período observado pela matéria da FSP não parece ter aderência
com a evolução do macroambiente nacional – com destaque para as pioras nas expectativas
de consumidores e empresários, indicadas na lista anterior. O que pode explicar
essa constatação? Quais são as possíveis explicações?
Primeiramente, sempre é bom
lembrar que o mercado de ações no Brasil e em outros países representa de forma
imperfeita a economia como um todo; no Brasil, isto é bem mais acentuado, sendo
que ações como Petrobrás e Vale afetam em boa medida o Ibovespa.
Em segundo lugar, nos mercados de
capitais – no Brasil e no mundo – há investidores com visão de curto e de longo
prazos. Investidores fundamentalistas e com visão de longo prazo certamente se
deterão sobre os fundamentos do País, da economia e das empresas em que
investirem, mas os investidores com visão de curto prazo têm outra lógica e
outras ferramentas de trabalho.
Em terceiro lugar, a liquidez dos
mercados externos pode ter ajudado a alavancar o Ibovespa, atraindo
investimentos para boas oportunidades de compras de ativos no País, percebidos
como depreciados. Esta é uma hipótese a ser verificada.
Por fim, houve, nos mercados
financeiro e de capitais, expectativas positivas em relação ao governo iniciado
em 2019, especialmente com respeito a reformas na Previdência Social e na
esfera tributária e isto provavelmente ajudou a alavancar o Ibovespa. Pode-se
afirmar que mesmo com cautela e idas e vindas, na primeira metade do ano, o
mercado de ações evoluiu baseado em significativa dose de confiança de
investidores.
Este artigo não se refere ao
futuro, mas a deterioração dos indicadores apresentados pela matéria da Folha
de São Paulo não pode ser ignorada; a confiança na economia, no País e a aprovação
do governo federal estão a eles associada. E a nosso ver, especial destaque
merecem as finanças das famílias, o trabalho, a saúde, a educação e o meio ambiente; se seus
fundamentos não melhorarem, o País não caminhará bem.
Assim, concluindo a resposta à
pergunta do título deste artigo, constatamos, com base em dados relacionados aos primeiros meses de 2019: a valorização
do mercado de ações nacional foi boa, mas o Brasil, em várias frentes, não foi
bem. E quanto ao futuro? Este está por ser escrito, mas em nossa percepção, os desafios são de grande magnitude e tema para outras reflexões.
Mônica Mansur Brandão
Mônica Mansur Brandão
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