segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Bolsa de Valores subindo significa que o País caminha bem?


A resposta à pergunta do título deste artigo é: não necessariamente. É o que demonstra a realidade do momento do Brasil, refletida em bom artigo da Folha de São Paulo, publicado neste dia 11  (domingo) e denominado Primeiro semestre sob Bolsonaro, 44 indicadores pioram e 28 melhoram – levantamento aponta deterioração na educação e no ambiente e equilíbrio na economia.

No artigo em questão, a FSP explica ter pesquisado 87 indicadores ao longo do primeiro semestre de 2019, em bases comparativas com o primeiro semestre de 2018. A análise da Folha categorizou os vários indicadores considerando as alternativas “melhorou”, “piorou” e estável”. Abaixo, relacionamos os indicadores deteriorados, que são aqueles que mais importam para responder à pergunta inicial deste artigo, mesmo reconhecendo que houve alguma melhora em 28 indicadores e a estabilidade de outros 15:

Economia e equilíbrio fiscal
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1.       PIB*
2.       Expectativa para PIB 2019*
3.       PIB-Investimentos*
4.       PIB/Indústria*
5.       PIB - Agropecuária*
6.       PIB-Exportação de bens e serviços*
7.       Balança comercial
8.       Exportação
9.       Corrente de comércio
10.    Taxa média de juros
11.    Dívida Pública
12.    Estados em dificuldade de honrar dívidas

Finanças familiares
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13.    Endividamento das famílias
14.    Preço médio da cesta básica
15.    Número de consumidores inadimplentes

Trabalho
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16.    Pessoas sem carteira de trabalho assinada
17.    Subutilização da força de trabalho

Saúde
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18.    Médicos na atenção básica
19.    Repasses federais para atenção básica
20.    Agentes comunitários de saúde
21.    Consultas de pré-natal
22.    Consultas na atenção básica
23.    Cobertura vacinal
24.    Número de internações por pneumonia em menores de cinco anos

Educação
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25.    Investimento federal para construção de creches
26.    Número de escolas apoiadas para melhoria de ensino no 1º e 2º anos
27.    Investimentos federais na melhoria de ensino no 1º e 2º anos
28.    Bolsas para alfabetização de adultos
29.    Investimento federal em ensino integral
30.    Repasses para obras de acessibilidade e instalação água nas escolas
31.    Repasses para instalação de internet nas escolas
32.    Número de alunos no Pronatec (educação profissional)
33.    Bolsas integrais e presenciais do Prouni
34.    Bolsas para pós-graduação
35.    Avaliação popular da educação

Habitação
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36.    Repasses ao Minha Casa Minha Vida

Energia
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37.    Preço médio do diesel

Meio ambiente e terras
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38.    Desmatamento na Amazônia Legal
39.    Desmatamento no Cerrado
40.    Multas aplicadas pelo Ibama
41.    Demarcação de terras

Aprovação e confiança
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42.    Avaliação do governo
43.    Confiança do consumidor
44.    Índice de confiança do empresariado

Importante: reordenamos a apresentação dos blocos de indicadores apresentados na FSP, para melhor facilitar a leitura do artigo. Ademais, não apresentamos os números detalhados pela matéria.Os indicadores indicados com asterisco (*) foram computados para o primeiro trimestre, já que os dados semestrais ainda não estão disponíveis.

Conforme se percebe, de modo geral, houve deterioração em indicadores importantes relacionados à economia, equilíbrio fiscal, finanças familiares, trabalho, saúde, educação e meio ambiente. E ainda que todos os indicadores importantes para o Brasil não estejam contemplados na relação elaborada pela matéria da Folha de São Paulo, o painel ali apresentado denota que nos primeiros meses do ano, o Brasil piorou em várias frentes.

Ainda de acordo com a matéria em consideração (ver final da lista de indicadores anterior), os níveis de confiança dos consumidores e do empresariado caíram e o governo tem 33% de aprovação de bom e ótimo, a pior avaliação popular dos presidentes de primeiro mandato nos seis primeiros meses de governo, segundo informa o Datafolha.

Concomitantemente, o mercado de ações, medido pelo índice Ibovespa, se valorizou, saltando de 91 mil pontos no pregão do dia 2 de janeiro para 100,9 mil pontos no do dia 28 de junho (usando dados da própria matéria da FSP). E já considerando o desastre ambiental de Brumadinho – o rompimento da barragem de Córrego do Feijão –, que desvalorizou substancialmente a Vale S/A no mercado.

Assim sendo, a valorização do mercado nesse período observado pela matéria da FSP não parece ter aderência com a evolução do macroambiente nacional – com destaque para as pioras nas expectativas de consumidores e empresários, indicadas na lista anterior. O que pode explicar essa constatação? Quais são as possíveis explicações?

Primeiramente, sempre é bom lembrar que o mercado de ações no Brasil e em outros países representa de forma imperfeita a economia como um todo; no Brasil, isto é bem mais acentuado, sendo que ações como Petrobrás e Vale afetam em boa medida o Ibovespa.

Em segundo lugar, nos mercados de capitais – no Brasil e no mundo – há investidores com visão de curto e de longo prazos. Investidores fundamentalistas e com visão de longo prazo certamente se deterão sobre os fundamentos do País, da economia e das empresas em que investirem, mas os investidores com visão de curto prazo têm outra lógica e outras ferramentas de trabalho.

Em terceiro lugar, a liquidez dos mercados externos pode ter ajudado a alavancar o Ibovespa, atraindo investimentos para boas oportunidades de compras de ativos no País, percebidos como depreciados. Esta é uma hipótese a ser verificada.

Por fim, houve, nos mercados financeiro e de capitais, expectativas positivas em relação ao governo iniciado em 2019, especialmente com respeito a reformas na Previdência Social e na esfera tributária e isto provavelmente ajudou a alavancar o Ibovespa. Pode-se afirmar que mesmo com cautela e idas e vindas, na primeira metade do ano, o mercado de ações evoluiu baseado em significativa dose de confiança de investidores.

Este artigo não se refere ao futuro, mas a deterioração dos indicadores apresentados pela matéria da Folha de São Paulo não pode ser ignorada; a confiança na economia, no País e a aprovação do governo federal estão a eles associada. E a nosso ver, especial destaque merecem as finanças das famílias, o trabalho, a saúde, a educação e o meio ambiente; se seus fundamentos não melhorarem, o País não caminhará bem.

Assim, concluindo a resposta à pergunta do título deste artigo, constatamos, com base em dados relacionados aos primeiros meses de 2019: a valorização do mercado de ações nacional foi boa, mas o Brasil, em várias frentes, não foi bem. E quanto ao futuro? Este está por ser escrito, mas em nossa percepção, os desafios são de grande magnitude e tema para outras reflexões.

Mônica Mansur Brandão

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