Caso Toshiba: ex-presidente Hisao Tanaka, ao centro, e outros dirigentes diante da imprensa (2015). |
O caso
Toshiba constitui-se em dos maiores escândalos do ambiente de negócios do Japão
e é um exemplo de como se pode criar uma cultura corporativa capaz de iludir investidores
com informações contábeis inadequadas durante vários anos.
Em
2015, um relatório com cerca de 300 páginas, resultante de uma investigação externa
contratada pela própria Companhia, revelou que três de seus executivos-chefes –
os três mais recentes no momento da divulgação do escândalo – tiveram uma
participação ativa em uma fraude contábil de grande magnitude financeira e continuada,
a qual elevou o lucro operacional da Empresa desde o ano de 2008.
De
acordo com o documento, os dirigentes envolvidos no caso criaram forte pressão
sobre unidades de negócios da Toshiba, que operavam com variados produtos –
computadores pessoais, semicondutores e reatores nucleares entre outros. Aos executivos
dessas UN’s, eram apresentadas metas cujo alcance seria inviável e sem
embasamento que as respaldasse. Por vezes, a diretoria executiva corporativa divulgava
as metas antes do final de um trimestre ou ano, estimulando os dirigentes das UN’s
a tornarem os registros contábeis compatíveis com números irreais.
Assim,
procedimentos contábeis impróprios foram adotados em bases contínuas, encorajados
pela cúpula executiva da Toshiba, e tornando, segundo o relatório externo, “impossível”
que os executivos das UN’s se rebelassem contra uma forma de gerir muito
arriscada, no contexto cultural da Companhia. Conforme se percebe, o foco da
acusação de fraude foi substancialmente centrado nos dirigentes corporativos, entendendo
o relatório que as UN’s não teriam tido opção.
Diante
dos resultados da investigação, integrada por contadores e advogados externos,
o presidente-executivo da Toshiba, Hisao Tanaka, renunciou
ao seu cargo no dia 21 de julho de 2015, um dia após a investigação apontar que
ele e outros dirigentes foram responsáveis por inflar artificialmente os lucros
da Companhia e em um montante superior a US$ 1,2 bilhão, ao longo de cerca de sete anos.
De
acordo com o relatório da comissão, Tanaka, empregado da Toshiba em cerca de quatro
décadas, e Norio Sasaki, vice-presidente do conselho de administração, tinham
ciência de que lucros informados ao mercado de capitais eram irreais e nada
fizeram para que a contabilidade da Companhia fosse corrigida.
O CEO
Tanaka, que ficou no cargo desde 2013, ao se afastar, informou ao mercado que
seria temporariamente substituído pelo presidente do conselho de administração Masashi Muromachi, e que a Toshiba considerava a contratação de membros
externos para compor mais do que 50% das cadeiras dessa instância.
Diante
de câmaras de TV, em atitude que parecia demonstrar profunda vergonha –, Tanaka
afirmou que ocorrido era “o evento mais danoso” da história da Toshiba para a
marca corporativa. Além de Hisao Tanaka e Norio Sasaki, outros executivos
também deixaram a empresa. A saída dos envolvidos na fraude contábil teria produzido um efeito positivo sobre o preço das ações da Toshiba, que se elevou em 6,1%.
Ao
comentar o ocorrido, o vice-primeiro ministro do Japão Taro Aso manifestou-se
decepcionado, observando que a governança corporativa no Japão precisava
melhorar e que o evento poderia afetar a confiança de investidores no mercado
de capitais japonês. O caso Toshiba suscitou discussões em âmbito governamental
sobre como aumentar a transparência das companhias e atrair investidores
estrangeiros.
O escândalo
da Toshiba teve vários desdobramentos corporativos e externos à corporação. Em 21 de dezembro de 2015, a Companhia
anunciou o corte de 6,8 mil empregos em suas divisões de produtos para o grande
público, correspondentes a um terço de seu quadro de funcionários. Em 2016, soube-se
que autoridades dos Estados Unidos estariam investigando a Companhia, já
investigada no Japão, em função do suposto envolvimento com a Westinghouse. A notícia
fez as ações da Toshiba despencarem em cerca de 8%.
Adicionalmente,
diante do escândalo contábil, vários investidores, especialmente estrangeiros,
ingressaram na Justiça contra a Toshiba, por se sentirem prejudicados. Ademais,
em 2017, novas possibilidade de fraudes na Empresa emergiram na imprensa, as
quais estariam sendo investigadas pelas autoridades competentes.
O caso
Toshiba é emblemático, sob o prisma de desrespeito a regras contáveis.
Certamente, é um case que merece ser
discutido em treinamentos de contabilidade ao redor do Planeta, bem como de
governança corporativa.
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