Foto: Felipe Werneck / Ibama. |
CPI da Assembleia Legislativa
A Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Almg) sobre o caso
Brumadinho concluiu seu relatório, um robusto documento com mais de 300 páginas,
o qual resulta de cerca de seis meses de trabalho da CPI e mais de 100
depoimentos colhidos pelos deputados.
No dia 12, quinta-feira, o
relator da Comissão, deputado André Quintão (PT/MG), leu o relatório final na
Almg e pediu o indiciamento de 13 empregados da Vale S/A e da Tuv Suv,
consultoria que certificou a segurança da barragem rompida.
Ao lado do indiciamento, o relatório
indica nomes de responsáveis pela tragédia e apresenta mais de 100
recomendações a órgãos públicos para que novos eventos como o de Brumadinho não
ocorram. O relator ainda pede que Vale e Tuv Suv sejam responsabilizadas pelo
ocorrido.
Entre os nomes de pessoas
indicadas pelo relator, destacam-se os de Fábio Schvartsman, ex-presidente da
Vale, Gerd Peter Poppinga, ex-diretor executivo de Ferrosos e Carvão da
Companhia, além de Makoto Namba e André Yassuda, ambos engenheiros da Tuv Suv.
Segundo Quintão, o pedido
de indiciamento da alta administração da Vale foi feito em conformidade com a
lei nacional de segurança de barragens, segundo a qual o empreendedor é o responsável
e é quem responde pela Companhia, além dos empregados da geotecnia operacional
e corporativa, os quais conheciam os eventos que demonstravam a instabilidade
da barragem rompida.
Para o relator, a Vale
tinha conhecimento da instabilidade da barragem de Córrego do Feijão. A companhia teria usado um relatório falso, com
fator de segurança abaixo das metas recomendadas internacionalmente e pela
própria Companhia. Segundo Quintão, houve um faturamento hidráulico em junho de
2018 e o plano de evacuação deveria ter sido acionado naquele momento pela
Vale, que teria sido omissa por não tomar medidas para evitar o desastre.
O
relatório da CPI da Almg segue para a Mesa da Assembleia, para que seja publicado.
O documento ainda será remetido a vários órgãos públicos, a fim de que diversas
providências sejam tomadas. Para assegurar que as vítimas e os municípios impactados
pelo desastre de Brumadinho sejam reparados, será proposta a criação de uma
instância na Almg para acompanhar o cumprimento das diversas recomendações
contidas no relatório.
Familiares de vítimas
da tragédia acompanharam a reunião, com faixas com críticas à Vale e cobrando medidas
de reparação. Diante do Plenarinho IV da Assembleia Legislativa, foram
espalhadas fotos das pessoas que perderam a vida no desastre.
CPI da Câmara dos Deputados
A Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados sobre o caso Brumadinho, que ouviria
representantes dos atingidos pela tragédia de Brumadinho visando a finalização
de seu relatório, cancelou a reunião, prevista para o dia 9 de setembro.
A próxima reunião do Comitê
ocorrerá no dia 16 de setembro, com o mesmo propósito daquela cancelada, tendo
convidado representantes das seguintes entidades:
1. Comissão de Atingidos
Parque da Cachoeira
2. Comissão de Atingidos
Córrego do Feijão
3. Comissão de Atingidos de
Pires
4. Comissão de Atingidos
Tejuco
5. Comissão de Atingidos
São Joaquim de Bicas
6. Comissão de Atingidos
Colônia Santa Izabel
7. Comissão de Atingidos
Mário Campos
8. Representante das
Comunidades Quilombolas de Brumadinho e Belo Vale
9. Comissão de Funcionários
da Mina Córrego do Feijão
10. Movimento pelas Serras
e Águas de Minas (MovSam)
11. Movimento Luto
Brumadinho Vive
12. Associação de Moradores
da Jangada
13. Movimento Águas e
Serras de Casa Branca
14. Gabinete de Crise da
Sociedade Civil
15. Movimento de Atingidos
por Barragem (MAB)
16. Movimento de Atingidos
por Mineração (MAM)
17. Acampamento Pátria
Livre (MST)
18. Retomada Indígena Naô
Xohã
Brumadinho piora indicadores de saúde e registra alta de suicídios
A poucos dias de completar
oito meses do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da Vale S/A, em
Brumadinho, a Secretaria Municipal de Saúde detectou grande piora em vários
indicadores de saúde do Município.
Considerando todas as especialidades
médicas, os atendimentos na rede primária de saúde de Brumadinho cresceram de
33 mil para 54 mil no primeiro quadrimestre de 2019, em comparação com o mesmo
período de 2018, registrando-se alta de 63%.
A deterioração da saúde
mental da população também pode ser identificada com base na elevação expressiva
de prescrições de antidepressivos e ansiolíticos, medicamentos para controlar
ansiedade e tensão. O uso de antidepressivos por pacientes da rede pública, em
agosto de 2019, foi 60% superior ao do mesmo mês em 2019. Quanto aos
ansiolíticos, seu uso cresceu 80% no mesmo período.
De acordo com Julio Araújo
Alves, secretário municipal da Saúde de Brumadinho, o uso de medicamentos tem
sido feito principalmente por mulheres, sendo que várias perderam filhos e
marido. O secretário afirmou que a prefeitura está trabalhando para evitar um
quadro pior.
Adicionalmente, no primeiro
semestre de 2019, registraram-se 39 tentativas de suicídio, 11 de homens e 28
de mulheres, contra 30 em 2018; o aumento foi de 23%. Até o presente momento do
ano, registraram-se três suicídios, contra um em 2018.
Para o professor Frederico
Garcia, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medician de Minas
Gerais (UFMG), o trauma psicológico dos moradores de Brumadinho tem paralelo
com o detectado em países onde há guerras. Segundo o especialista, a situação
de sofrimento pode durar por muitos anos.
A prefeitura de Brumadinho
estima alta de R$ 15 milhões nos gastos com saúde em 2019. Em 2018, os gastos
foram de R$ 55 milhões e em 2019 deverão ser da ordem R$ 70 milhões. Os
recursos adicionais sairão de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de R$ 31
milhões, para dois anos, firmado entre a Vale S/A e a força-tarefa do Ministério
Público.
Neste mês de setembro, o
Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza a campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio. O CVV reúne 3 mil
voluntários, que atendem gratuitamente por telefone, chat ou pessoalmente. Aquele que precisar de ajuda pode ligar para
o número 188 a qualquer hora do dia ou noite.
Mineradoras querem “inverter imagem” após tragédia de Brumadinho
Na segunda-feira 9,
empresas mineradoras assinaram uma carta-compromisso para mudar diametralmente sua
imagem, após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho,
pertencente à Vale. A expressão “inverter imagem” foi usada pelo presidente do
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Wilson Brumer, em seu discurso aos
presentes.
O evento foi o primeiro
grande encontro do setor de mineração após a tragédia de Brumadinho, tendo
reunido mineradoras e prestadores de serviços. O Ibram, entidade organizadora,
tem como associados além da Vale, grandes mineradoras como Nexa, Anglo American
e Anglo Gold entre outros.
Na abertura do encontro, os
presentes observaram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas de
Brumadinho. Durante os discursos, um grupo de familiares de vítimas levantou
cartazes com nomes de seus parentes mortos e alguns gritos de “assassinos”
foram ouvidos.
Em seu discurso, Wilson
Brumer afirmou que o propósito do encontro foi tratar do futuro da mineração e,
mais do que isso, da mineração do futuro. Afirmou ainda que não se esquecerá o
que houve e que é preciso tirar lições para que fatos como os rompimentos de
barragens de Mariana e Brumadinho não se repitam.
A carta-compromisso promete
transformar a indústria de mineração brasileira, afirmando que os rompimentos
de barragens colocam em xeque a essência da atividade mineradora, que deve
oferecer à sociedade uma gama de recursos minerais para permitir a melhoria da
qualidade de vida.
Presente no evento, Bento
Albuquerque, ministro de Minas e Energia, afirmou disse que o governo não mede
esforços para atender aos atingidos e que 180 barragens foram vistoriadas desde
a tragédia de Brumadinho.
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