Projetar
o futuro é uma das atividades mais importantes dos investidores, analistas e
profissionais de investimento dos mercados de capitais e das empresas por eles
acompanhadas. Afinal, o valor econômico de uma empresa está no seu futuro,
refletido nos fluxos de caixa livres projetados, correspondentes à diferença
entre as receitas e os gastos estimados (despesas + investimentos), e também
refletido no custo de capital esperado.
Ainda
que os focos de projeção sejam distintos e fortemente impactados, no caso dos
agentes do mercado, pela assimetria informacional entre estes e quem administra
o negócio, é do futuro projetado nas planilhas financeiras dos públicos citados
que emerge o valor econômico empresarial. E no caso específico das empresas,
projetar o futuro significa planejar.
No livro
Administrando em tempos de grandes
mudanças, de 1997 e absolutamente atual, o professor Peter Drucker (1909-2005)
apresenta, entre outras reflexões sobre administração, um pequeno ensaio sobre
o planejamento para a incerteza. Aqui, cabe um ponto de atenção: ao longo de
sua vida, Peter Drucker foi muito admirado por públicos corporativos, por
trazer insights novos que estes consideravam
condizentes com a o futuro percebido.
Nascido
na Áustria e falecido nos EUA, Peter Drucker mostrou uma visão peculiar sobre
como planejar e sobre muitas outras questões ligadas à administração de
negócios. Para ele, ao raciocinarem em bases tradicionais, os
planejadores costumam perguntar: o que é mais provável que aconteça no futuro? Entretanto,
em sua visão, a pergunta certa a ser feita é outra: o que já aconteceu que
criará o futuro?
Drucker
prossegue, complementando a pergunta essencial acima com outras, que deveriam,
em seu entendimento, constar na agenda dos planejadores estratégicos:
1 - O que os fatos
consumados significam para o negócio?
2 - Que oportunidades eles
criam?
3 - O que ameaçam?
4 - Quais mudanças eles
exigem na estrutura, nas metas, nos serviços e nas políticas empresariais?
5 - Quais mudanças eles
tornam possíveis e vantajosas?
O
professor exemplifica seu pensamento citando os japoneses, que perceberam e
exploraram a tendência de gastos com produtos eletrônicos de entretenimento –
rádio, televisão, audiocassetes, videocassetes e outros –, após a Segunda Grande Guerra Mundial, ganhando muito dinheiro em função dessa percepção
adiantada em relação aos concorrentes.
Um
questionamento apresentado pelo professor Drucker no ensaio sobre a incerteza,
de interesse para os mercados financeiros e de capitais, diz respeito às
pessoas ditas idosas: será que elas realmente não poupam? A realidade pode
estar apontada em outra direção. Aliás, o conceito de pessoa idosa tem se
tornado a cada dia que passa mais fluido, em vista da melhor saúde e aumento do
tempo estimado de vida das pessoas outrora assim consideradas.
O cerne
das ponderações de Peter Drucker é: planejar para a incerteza exige
fazer uma leitura crítica do passado e do presente para entender a partir de
quais fatos já consumados ou a caminho da consumação se pode identificar forças
e fraquezas e criar oportunidades. Esta é uma das lições relevantes deixadas
pelo pensador, uma das suas melhores pérolas. Faz sentido.
Leituras
sugeridas:
Mônica Mansur Brandão