Estudiosos e amantes do Direito não
podem perder este filme, especialmente aqueles interessados em refletir sobre a
liberdade de expressão e suas implicações para a sociedade, de forma ampla.
Imperdível.
“O Povo Contra Larry
Flynt” é um filme de 1996 e se baseia na história real de um homem,
nascido nos Estados Unidos: Larry Claxton Flynt, Jr., que fundou a Larry Flynt
Publications (LFP), grupo responsável pela produção, principalmente, de
material pornográfico, entre vídeos e publicações impressas. A revista Hustler
é a publicação do LFP que ganhou maior notoriedade.
O filme focaliza a polêmica que emerge
dos negócios de Larry Flint e da forte reação de grupos contrários aos
conteúdos polêmicos por ele publicados. Nascido em uma família humilde no
interior dos EUA, Flynt constrói um império. Em conjunto com seu irmão Jimmy,
administra uma cadeia de clubes de striptease no estado de Ohio, o Hustler
Go Go Club. Os negócios vão mal e Flynt passa a circular fotos de dançarinas
nuas, visando melhorá-los. Ele cria uma revista nacional, a Hustler, focada em
homens e com uma linguagem de fácil assimilação, que se torna um sucesso. A
revista Playboy, do concorrente Hugh Hefner, também é sucesso de vendas, com
uma linguagem elitista.
A revista Hustler é vendida a milhões
de pessoas e diversos grupos de militantes, especialmente religiosos, passam a
combater sua circulação. Flynt passa então a ser alvo de diversos processos
judiciais. Representado pelo advogado Alan Isaacman, ele se defende na Justiça
com o argumento da liberdade de expressão, expresso na Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos. Por influência da irmã do ex-presidente Jimmy Carter,
Ruth Carter Stapleton (pessoa religiosa e autora do livro “A Cura pela Fé”),
Flynt chega a alterar a linha editorial da revista Hustler.
Nessa trajetória conturbada, na saída
de uma sessão judicial, Flynt e Isaacman, seu advogado, são baleados por um
radical religioso, Joseph Paul Franklin. Flynt torna-se paraplégico, envolve-se
com drogas, juntamente com a sua esposa Althea, e ela termina por morrer com
AIDS, no contexto do uso dessas substâncias. Ele então passa a fazer
publicações ainda mais polêmicas e críticas, entre as quais, uma paródia do
pastor evangélico Jerry Falwell, o qual o processa por difamação. A batalha
jurídica entre ambos segue, até o seu desfecho, em um julgamento muito
interessante e baseado na defesa da liberdade de expressão.
Qual é o apelo do filme “O Povo Contra
Larry Flynt”, quando se raciocina em termos do Direito Constitucional? Ele
reside precisamente na Primeira Emenda da Carta Magna dos EUA, que defende a
liberdade de expressão. Algumas perguntas se apresentam à reflexão daqueles que
assistiram ou assistirem ao filme: é melhor conviver com pessoas que produzem
conteúdos com os quais não concordamos ou cercear a nossa própria liberdade de
expressão? Quais mecanismos a sociedade deve criar para que a liberdade de
expressão se viabilize na prática? Para que se possa lidar com o ódio? Para que
se possa proteger crianças? Para que a sociedade seja livre e responsável.
Dirigido por Milos Forman e
protagonizado por Woody Harrelson (Larry Flynt), Courtney Love (Althea) e
Edward Norton (Alan Isaacman), em ótimas interpretações, “O Povo Contra Larry
Flynt” ganhou o Urso de Ouro como melhor filme no Festival de Berlim de 1997 e
recebeu duas indicações ao Oscar, de melhor filme e melhor ator no mesmo ano.
(Escrito para o site jurídico andremansur.com.br)