Segundo Armínio Fraga, o
Brasil está em recessão profunda.
No último dia 7 de junho, o jornal Valor entrevistou o economista Armínio Fraga Neto, ex-presidente do Banco Centro no segundo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e sócio fundador da Gávea Investidos. Fraga discorreu sobre as crises econômica, política e sanitária, bem como sobre desigualdade social, ingredientes de uma profunda recessão (ou seria depressão) que, a seu ver, ameaça as finanças públicas no Brasil.
Em sua entrevista, Armínio Fraga destaca a desigualdade social como contexto de fundo dessas crises, potencializando seus riscos. Além disso, menciona a redução da desigualdade como oportunidade de retomada do crescimento econômico e este é um dos pontos altos de sua entrevista.
Em sua entrevista, Armínio Fraga destaca a desigualdade social como contexto de fundo dessas crises, potencializando seus riscos. Além disso, menciona a redução da desigualdade como oportunidade de retomada do crescimento econômico e este é um dos pontos altos de sua entrevista.
Tolerada pela
sociedade brasileira ao longo de sua história, a forte desigualdade social do
País, especialmente diante de crises econômica, política e sanitária, sempre cria o risco de uma explosão social, quando boas alternativas não são engendradas e bem conduzidas pelo Estado brasileiro. Aliás, o momento requer a liderança do
Poder Executivo, para atravessar a
tempestade, a longa travessia até a resolução da crise COVID-19.
Todavia, o Estado não tem se movimentado com alinhamento entre os Poderes constituídos para criar
um ambiente de confiança nos agentes econômicos e na sociedade, de forma mais
ampla. A governança nacional, entre os três Poderes, bem como considerando os
Poderes Executivos nas esferas federal, estadual e municipal, não vai bem.
As críticas ao
ministro Paulo Guedes são pertinentes, especialmente quando se considera a baixa eficácia no socorro aos brasileiros que necessitam
receber ajuda do Estado durante a pandemia (R$ 600 por pessoa, segundo os
critérios estabelecidos pelo governo federal). Muitos ainda não
acessaram essa ajuda, mesmo fazendo jus à mesma – reportam veículos de mídia.
As micro e
pequenas empresas se ressentem das dificuldades de acesso ao apoio
financeiro para não morrerem ao longo da pandemia, sendo que milhões de empreendedores
não se sentem seguros para captar recursos no sistema financeiro. Aparentemente, apesar
de serem grandes geradoras de empregos no Brasil, elas não são foco do ministro
Guedes que, em reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril (cujo registro
por vídeo foi disponibilizado aos brasileiros por decisão do ministro Celso de
Melo, do Supremo Tribunal Federal – STF), teria manifestado preferência por
apoiar grandes empresas.
É meritório que
Armínio Fraga manifeste preocupação sobre a forte desigualdade social, vendo na
desigualdade oportunidade de mudança do contexto econômico, ao lado de sua também preocupação
com a possibilidade de superinflação e de calote na dívida pública. Ocorre que
em um País com o nível de desigualdade social do Brasil, é pertinente
questionar se a visão liberal, sozinha, per se, tem todas as ferramentas
necessárias para enfrentar as ameaças dos fronts
sanitário e econômico.
Contrariamente às
visões ultraliberal de Guedes e liberal do ex-presidente do
Banco Central Armínio Fraga, em vários países – com destaque para aqueles da
esfera da União Europeia e os EUA – as lideranças têm colocado a intervenção do
Estado como crucial para enfrentar o momento. Prioritariamente, enfrentando a
crise sanitária e, na sequência, a econômica e eventuais questões políticas. Em
momentos de forte crise econômica – e agora, também sanitária – os Estados se
tornam sociais, keynesianos, não liberais.
Por fim, politicamente,
o Brasil é preocupante. Ao lado de suas fragilidades econômicas, a crise
política parece longe de um apaziguamento entre os Poderes constituídos. Mesmo com certa ordem percebida, em geral, nas manifestações públicas de distintos matizes
ideológicos, boa parte da população brasileira sofre intensamente com o
desemprego, o subemprego, o medo da COVID-19 e dificuldades materiais de
diversas ordens.
Mônica Mansur Brandão (atualizado em 20/7/2020)
Continuação em As crises econômica, política e sanitária do Brasil (2/2)
Mônica Mansur Brandão (atualizado em 20/7/2020)
Continuação em As crises econômica, política e sanitária do Brasil (2/2)
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