A desigualdade socioeconômica no Brasil e no mundo é uma questão persistente e complexa, influenciada por fatores históricos, econômicos e sociais.
Na ponta final, a desigualdade socioeconômica se expressa em desigualdade de renda, decorrente de outras desigualdades importantes, no acesso à educação, saúde, justiça e a outros direitos, vedando, na prática, o consumo de muitas pessoas. O que prejudica o próprio sistema econômico, há que reconhecer, pois o consumo é um dos vetores da realização de investimentos.
Há várias abordagens para atacar a desigualdade e, no caso do Brasil, quando consideramos a Constituição Federal promulgada em 1988, constatamos que o Estado é a estrutura da economia que mais pode fazer pela redução da desigualdade, dada as disposições constitucionais e sua onipresença por todo o território nacional.
Em nossa opinião, é um erro defender a ideia de Estado mínimo. Nenhum Estado nacional deve ser mínimo, mas, sim, adequado às disposições constitucionais vigentes no território que se considera, com aderência a Constituição que nele vigora. Esta é uma questão tão importante que mereceria outro artigo.
No presente e breve artigo, defendemos que a boa governança, aquela realmente com bons fundamentos e não orientada para ostentar uma falsa realidade organizacional, pode dar sua contribuição para o alcance de uma sociedade mais justa ou menos injusta. Por que?
Primeiramente, porque faz um bom tempo que o tema governança corporativa deixou de focar apenas conflitos entre sócios e agregou o princípio da sustentabilidade.
Em segundo lugar, porque se espera, à luz da sustentabilidade, que a organização estabeleça um propósito, vinculado a necessidades planetárias.
Em terceiro lugar, porque uma das necessidades planetárias é, precisamente, a redução da forte desigualdade socioeconômica.
Um sistema de governança corporativa inclui princípios, regras, práticas e processos pelos quais as empresas e demais organizações da economia são dirigidas e controladas. E esse sistema pode fazer sua parte na redução de desigualdades, senão vejamos:
1. Engajamento das partes interessadas
Um aspecto crucial da governança corporativa é o engajamento das partes interessadas. Empresas que envolvem ativamente suas partes interessadas, incluindo empregados, clientes, fornecedores e a comunidade nas suas decisões estratégicas e operacionais estão mais propensas a tomar decisões que beneficiem a sociedade como um todo. O que pode resultar em ações mais direcionadas para reduzir a desigualdade.
2. Investimentos em responsabilidade social
Empresas com forte governança corporativa investem em iniciativas de responsabilidade social corporativa. Esses investimentos podem incluir programas educacionais, de saúde e de desenvolvimento comunitário que beneficiam diretamente comunidades e grupos de seres humanos menos favorecidos. Ao direcionarem recursos para esses fins, empresas ajudam a reduzir disparidades sociais e econômicas.
3. Remuneração menos desigual
Governar uma organização requer a definição de políticas de remuneração para os seres humanos que ali laboram. Empresas que adotam práticas de remuneração mais equitativas, abrangendo salários e benefícios de diversas ordens para todos os níveis de empregados podem ajudar a reduzir a desigualdade de renda.
4. Inclusão e diversidade
A implementação de políticas de inclusão e diversidade dentro das empresas é uma questão essencial da governança corporativa contemporânea. Empresas que promovem a diversidade de gênero, raça e outras formas de diversidade no local de trabalho contribuem para a equidade social. Ao oferecerem oportunidades de evolução profissional e garantirem um ambiente de trabalho mais inclusivo, empresas podem ajudar a combater a discriminação e promover a mobilidade social.
Como se percebe
A governança corporativa pode desempenhar um papel na redução da desigualdade. Ao adotarem práticas transparentes, inclusivas e responsáveis, empresas podem contribuir para a criação de uma sociedade mais justa ou, como alguns poderão preferir, menos injusta. Não, não se trata de uma utopia, isso é possível.
Retornando ao Estado, evidentemente não se espera das empresas que estas substituam as organizações estatais em suas responsabilidades de diversas ordens. Mas é razoável esperar que em uma sociedade mais igualitária - ou menos injusta - exista uma participação das empresas nesse status. O que se dará via governança corporativa & sustentabilidade.
Mônica Mansur Brandão
Sugestões de pesquisa:
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
Relatórios de Sustentabilidade de Empresas Listadas na B3
Publicações do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre desigualdade social e desenvolvimento econômico