Queremos que o mundo melhore?
O ambiente externo de uma organização extrapola o seu conceito físico e corresponde ao amplo conjunto integrado por fatores e forças fora do controle organizacional direto, que podem impactar a governança, as estratégias, operações e o desempenho organizacional.
O que abrange o ambiente externo? Ele inclui regras estabelecidas pelo Estado, cenário socioeconômico, mudanças tecnológicas, tendências sociais, forças competitivas e o ambiente cultural. Em um nível mais próximo da organização, pode se referir a públicos stakeholders como clientes, fornecedores e concorrentes entre outros.
A externalidade, por sua vez, é o impacto colateral da atividade econômica, que afeta o ambiente externo e públicos stakeholders não diretamente envolvidos na atividade (stakeholders secundários). O impacto pode ser positivo, com benefícios para terceiros, ou negativo, no sentido oposto.
A educação de pessoas e a poluição constituem-se em externalidades positiva e negativa, respectivamente produzidas por instituições de ensino e indústrias poluentes. O artigo denominado Governança e sustentabilidade: temos falar sobre externalidades, publicado por Cida Hess e Mônica Brandão no Portal Acionista, ajuda a melhor qualificar externalidades.
O ambiente externo pode levar à produção de externalidades positivas, negativas ou ambas pelas organizações? A resposta é sim.
O ambiente externo baliza ou impõe decisões de líderes organizacionais atentos, as quais podem criar projetos ou medidas menos impactantes, as quais, por sua vez, podem gerar externalidades novas ou mudanças em externalidades existentes.
A seguir, apresentamos três exemplos hipotéticos, entre vários que poderiam ser dados, relacionados à emergência de externalidades positivas (nosso foco neste artigo):
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Exemplo 1:
Pressões da sociedade e de stakeholders
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Decisão
Em resposta a pressões da população de uma comunidade e de veículos de mídia, uma empresa faz pequenas alterações em parte do seu processo produtivo e reduz a contento suas emissões de carbono.
Externalidades
Ao reduzir a própria pegada de carbono, a empresa resolve o problema que afligia a população antes impactada, ajuda a preservar o Planeta e ainda pode influenciar positivamente outras organizações.
Comentário
Neste exemplo, as pressões levaram a organização a achar soluções internas sem grandes impactos de processo e gastos. É possível que sem as pressões externas, os líderes e demais públicos internos da empresa não percebessem que era possível melhorar sua atividade de forma relativamente simples.
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Exemplo 2:
Pressão da concorrência e de consumidores
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Decisão
Em resposta aos concorrentes e consumidores de um setor, altamente competitivo, uma empresa melhora substancialmente a qualidade da orientação pós-venda a pessoas que compram seus produtos, em caso de eventuais defeitos. Se a Empresa A vende um produto a João, e João revende o produto a Pedro, em caso de defeito, ambos, Pedro e João têm a quem pedir orientação de boa qualidade.
Externalidade
Ao melhorar a qualidade da orientação pós-venda, a empresa facilita a vida de uma cadeia de compradores e vendedores a jusante de si, o que reduz o nível de stress em caso de ocorrência de problemas e, por vezes, evita ações judiciais.
Comentário
Os concorrentes e os consumidores são forças muito fortes que pressionam setores e empresas que neles operam.
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Exemplo 3:
Legislação mais rigorosa
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Decisão
Em resposta a regulamentações ambientais rigorosas estabelecidas pelo Poder Legislativo, uma empresa redesenha todo o seu processo produtivo.
Externalidades
Ao reduzir a pegada de carbono, a empresa passa a ter um compliance sem violações de normas ambientais, ajuda a preservar o Planeta e ainda pode influenciar positivamente organizações com problemas de compliance.
Comentário
Neste exemplo, as pressões levam a organização a adotar solução com grandes impactos de processo e gastos. Sem as normas ambientais, as pressões da sociedade, de stakeholders e mesmo de concorrentes e consumidores talvez não fossem suficientes para produzir necessárias mudanças. Por vezes, nem sempre o estudo e a implementação da solução são céleres, diga-se.
Como se percebe, o ambiente externo induz mudanças em externalidades. As pressões do ambiente externo ou pressões externas são cruciais para produzir necessárias mudanças, já que muitos líderes organizacionais estão atentos e realmente fazem gestão estratégica.
Infelizmente, nem sempre o que advém do ambiente externo é bom para a sociedade e o Planeta. O exemplo mais crítico e visível a observar, a nosso ver, é o da criação e alteração de normas legais: por vezes, as normas novas ou revisadas serão piores sob o prisma social, ambiental ou socioambiental.
Assim, no capitalismo de stakeholders, os cidadãos precisam ficar muito atentos e observar o que os legisladores têm produzido ou pretendem produzir. Pressioná-los a bem da coletividade é um exercício de cidadania e essas pressões "externas" (sob a perspectiva de quem legisla), sempre dentro dos marcos do ordenamento jurídico e da democracia, ajudam a tornar o País melhor.
Mônica Mansur Brandão
