quinta-feira, 17 de abril de 2025

Quando a dívida fala mais alto


O Custo Médio Ponderado de Capital, também conhecido como WACC – Weighted Average Cost of Capital, representa o custo médio que uma empresa suporta para financiar seus projetos, combinando tanto recursos próprios quanto de terceiros. 

A equação clássica do WACC considera a ponderação entre o capital próprio, com o seu respectivo custo (ke ou custo de equity), e o capital de terceiros, com o custo da dívida (kd ou custo de debt), ajustado, quando aplicável, pelos benefícios fiscais dos juros incorridos. Mesmo empresas de capital fechado devem utilizar o WACC como critério de decisão.

Infelizmente, a realidade de muitas empresas do nosso País não é mesma de grandes companhias que conseguem captar recursos financeiros a um custo muito menor do que o custo do seu capital próprio. E é comum encontrar empresas nas quais o endividamento supera consideravelmente o capital próprio, em períodos de expansão acelerada ou de dificuldade financeira. 

Imaginemos uma empresa hipotética com R$ 100 mil de capital próprio e R$ 400 mil em dívidas. A proporção de 20% de capital próprio e 80% de capital de terceiros significa que qualquer variação no custo da dívida terá um peso brutal sobre o custo total de capital. Isso torna o WACC sensível ao custo da dívida e torna obrigatória sua consideração em qualquer projeto relevante.

Para a mesma empresa hipotética acima mencionada, suponhamos que o custo do capital próprio (ke) seja de 10% ao ano e o custo da dívida (kd) seja de 24% ao ano, sem qualquer benefício fiscal. 

Com uma estrutura de capital onde 20% são recursos próprios e 80% são dívidas, o WACC será: 

WACC = (0,2 × 10%) + (0,8 × 24%) = 2% + 19,2% = 21,2% ao ano. 

Isso significa que qualquer investimento novo só fará sentido se render mais do que 21,2% ao ano. Caso contrário, o melhor uso do capital será reduzir o passivo oneroso.

As consequências práticas dessa configuração restam inevitáveis. Projetos empresariais medianos tornam-se inviáveis, pois iniciativas com retorno abaixo do WACC devem ser descartadas ou adiadas. A dívida passa a ser o principal termômetro estratégico. 

Mesmo oportunidades que parecem boas, com retorno de 18% ao ano, por exemplo, precisam ser examinadas com cautela se o custo da dívida é elevado e se esta eleva o WACC acima desse valor.

Ao invés de buscar novos investimentos, o foco administrativo será reorganizar os passivos e reduzir o custo financeiro. Reestruturar dívidas, renegociar taxas ou trocar dívidas caras por mais baratas pode gerar mais valor do que muitos projetos de expansão. 

Tomar decisões com base apenas no retorno econômico pode ser ilusório. Um projeto que promete 18% de retorno pode parecer atrativo. Todavia, se o custo médio ponderado do capital da empresa é de 21,2%, deve-se mesmo implantar esse projeto? A resposta é não

O WACC impõe uma disciplina financeira fundamental e ajuda a constatar se a empresa está realmente criando valor ou apenas girando capital a prejuízo. Em momentos de endividamento elevado, ele é mais do que uma taxa, é uma referência de sensatez.

Como se percebe, o WACC não é uma abstração para grandes corporações. É uma ferramenta de sobrevivência e crescimento sustentável para empresas de todos os portes. E quando a dívida é volumosa e cara, ela deixa de ser apenas um número no balanço e passa a ser o fator central das decisões. 

Antes de buscar novos voos, é preciso equilibrar o peso do que está sendo carregado. A matemática é simples, mas implacável: quando a dívida pesa demais, ela passa a ditar o ritmo da administração financeira.


Mônica Mansur Brandão


Sugestões de leitura: